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Dona Morte

Dona Morte

Terror e Suspense

                                  CONTOS Q ESCUTO POR AI

uns dias desses minha familia estava comentando sobre coisas q eram assustudores e que presenciaram e ta,em um destes contos minha mãe disse o seguinte:quando eu era pequena minha irmã saia com as amigas e não me levava junto,um dia decidi segui_lase no meio do caminho que que não sei para onde era que elas iam,elas perceberam que eu estava seguindo as.então elas começaram a tentar me despistar ,até que conseguiram(pois correram)esse local era uma avenida,mas estava vazia porq era muito tarde e era em uma cidade pequena de alagoas.então eu fui emprovisando o caminho até chegar a uma pracinha pequena onde as arvores eram cercadas por um circulo de cimento,tipo um banquinho de pedra ,em um desses circulos havia um bem distante ,nesse havia um menino aparentemente de 8 anos olhando para baixo e sorrindo exatamente nesta hora lembrei do que minha mãe disse(no caso minha avó)que as pessoas do local falavam para nâo andar na praça pois havia o diabo em forma de menino que quando vc se aproximava ele olhava para vc sorrindo com olhos de cor de sangue até que sem parar de fixar os olhos em vc as pernas dele começavam a cair,depois o braços,depois a cabeça e o torax,mesmo caido ele ainda olhava para vc até vc desmaiar e então ninguem via mais a pessoa ,minha mãe gelou literalmente o menino começou a olhar para ela e então as pernas começaram a responder ai ela correu como se o mundo tivesse acabando,cada passo que ela dava podia sentir a figura seguindo a cada esquina que ela virava morria de medo de ver o menino atras dela então ela chegou em casa e ja foi direto para sua mãe,depois sua irmã (minha tia,no caso da minha mãe mais velha)chegou com as amigas e disse que tinha ido na direção oposta da avenida,depois disso minha mãe nunca mais passou na praça nem de noite,nem de dia

detalhe isso foi real,em mata grande AL
outro detalhe a praça era toda branca .menos as arvores

 Menina Sozinha

Mãe: vou sair com o seu pai.

Menina: e eu vou ficar aqi sozinha ?

Mãe: sim, mais é por pouco tempo. Se chover
feche
a
casa.

Menina: ok, beijos.

Mãe: beijos, até já.

A garota se despediu da mãe, e foi perto de seu cachorro para se sentir protegida.Começou a chover de leve, então a menina foi trancar todas as
portas e trancar todas as janelas, mas uma se recusava a fechar. Ela decidiu
deixar a janela destrancada e então foi pra sua cama, seu cachorro
como de costume foi para debaixo da cama.

No meio da noite ela acorda por causa de um som de gotas vindo do
banheiro. A menina ficou muito assustada para ir ver o que era então 
ela estendeu sua mão para debaixo da cama, e sentiu a lambida de seu cachorro e voltou a dormir.Ela acorda novamente por causa do som das gotas, estende sua mão para debaixo da cama, senti a lambida de seu cachorro e volta a dormir. Mais uma vez ela acorda, estende a mão e sente a
lambida. Agora curiosa sobre o som das gotas, ela se levanta e
lentamente anda até o banheiro, o som dos pingos foi ficando cada vez mais alto
 de acordo que ela ia se aproximando. Ela chega no banheiro e liga a luz. Ela é recebida por um horrível sinal.pendurado no chuveiro estava seu cachorro      

com a garganta cortada e o sangue pingando na banheira. A menina se assusta,começa
a chorar, vai ate a pia do banheiro e alguma coisa no espelho do banheiro
chamou sua atenção. Estava escrito no espelho com o sangue de seu cachorro
; "HUMANOS TAMBÉM SABEM LAMBER" .



                                  EXORCISMO DO SÚCUBUS 
Com certeza já ouviram contar histórias estranhas sobre casos de pessoas possuídas pelo demónio. Sleep 

As mais vulgares, que até serviram de inspiração a escritores e realizadores de cinema, tinham sempre algo em comum: A vítima era uma pobre rapariga e o demónio, na sua versão masculina possuía o seu corpo.

O episódio que vos vou aqui narrar nada tem a ver com ficção literária, nem sequer tem a ver com influência cinematográfica. O que aconteceu foi real, ninguém me contou, fui eu que vi e vivi.

O ocorrido remonta aos anos oitenta, em que eu era ainda um jovem seminarista em Coimbra. Num fim-de-semana ausentei-me das instalações do seminário, apanhei o comboio e fui até Lisboa, pois a minha ideia era visitar o Cristo-Rei em Almada. E foi exactamente neste Santuário que tudo começou.

Detinha-me a rezar, quando repentinamente as minhas preces foram interrompidas por um soluçar forte vindo lá da frente onde se conservava o altar. Apercebi-me de uma figura de uma senhora já de meia-idade, toda trajada de negro que se debruçava sobre o altar numa reza estranha, mas convicta. À sua frente, várias velas queimavam incessantemente,cuja chama era ameaçada pelo seu choro incessante e desesperado.

Confesso que aquela situação me desconcertou e fez – me interromper as minhas preces. Contemplei a pobre mulher durante mais uns minutos, e não hesitei em ir me dirigir até ela.

- Minha senhora – sussurrei eu – A senhora está bem?

- Silêncio – asseverou ela sem mostrar o seu rosto.

-Apenas quero ajudar. A senhora está a sentir-se bem? - Inquiri persistente.

Foi neste momento que ela se virou e me deixou ver o seu rosto enrugado e os seus olhos vazios e cegos.

Confesso que hesitei entre ir-me embora e ajoelhar-me ao lado dela a rezar.

- Que queres de mim? Não percebes que não me podes ajudar? Nem a mim nem a ele?...

- Ele? Ele, quem? – Insisti

- Ele! – Afirmou, mostrando uma fotografia com a face de um jovem, supostamente seu filho. – Ele vai morrer. Nada, nem ninguém o poderá salvar. Meu lindo Duarte. - Suspirou a idosa, levando a mão ao meu peito.

- O que tem o Duarte? – Perscrutei eu segurando-lhe na mão

- Tu és um padre? – Questionou ela após verificar o meu traje.

- Sim, sou padre. – Menti, pois ainda não tinha terminado os estudos. – Gostava de poder ajudar o Duarte, minha senhora.

- És jovem como ele. – Asseverou, colocando as suas mãos enrugadas, mas quentes e meigas sobre o meu rosto.

- Então, diga-me o que se passa com o Duarte? Não há nada que a fé e, Jesus Cristo não salve...

Neste momento vi a idosa retirar um pequeno papel dobrado do seu alforge e, agarrando-me nos pulsos, depositou o papel na palma da minha mão.

-Aparece nesta morada amanhã cedo. Acredito na tua fé, jovem. Terás a tua prova de fé, amanhã quando os conheceres!

-Quando os conhecer, a quem? – Indaguei. - Amanhã verás! Espero que o consigas ajudar, pois até agora ninguém conseguiu, e já lhe resta pouco tempo. – Assegurou a idosa, voltando-se para o altar. De seguida benzeu-se, agarrou na sua bengala, e seguiu em direcção à saída.

Confesso que me senti nervoso quando a vi sair. Não foi pena nem compaixão, mas sim...admiração. Admiração por uma figura, aparentemente tão frágil, mas com um carácter tão forte e determinado.

Desembrulhei o pedaço de papel e verifiquei que se tratava de uma morada:

“Rua dos pescadores, lote 1 – 1ºandar – Seixal”

A paragem da camioneta onde o motorista me disse para eu sair, distava apenas alguns metros da morada que eu tinha.

Não demorei a encontrar a casa. Esta situava -se no âmago de uma rua estreita e revestida de calçada. Apercebi – me de que a minha presença chamara a atenção da vizinhança, que apareceram nas janelas, benzendo-se como se tivesse chegado um...”salvador”. Deduzi que toda a gente tinha conhecimento do que se passava com o Duarte. A minha ansiedade aumentava à medida que me aproximava da porta do lote 1.

A porta foi-me aberta mesmo antes de eu bater. Do interior da casa apareceu à porta uma jovem de cabelos castanhos, aparentando não ter mais de doze anos.

- Entre, senhor padre – Sussurrou ela com um tom muito envergonhado e olhar acanhado.

Entrei e aguardei que ela me guiasse até ao quarto onde estava o Duarte.

Subi umas escadas que finalizaram em frente de uma porta, que estranhamente estava toda trancada com vários cadeados e correntes À volta da porta, também havia estacas pregadas, e a parte superior estava rachada.

Subitamente dei pela presença da mãe de Duarte mesmo atrás de mim.

- O Duarte está a dormir, senhor padre. Está muito cansado, passou a noite toda acordado. Sabe, “ela” não o deixa descansar – Afirmou com um ar medonho e de mistério.

- O que se passa aqui nesta casa? – Interroguei com firmeza.

- Espero que esteja preparado para o que vai ver, senhor padre – Avisou a idosa, começando a destrancar a porta. Apercebi-me que a garota ficara escoltada com a porta da cozinha quando ouviu o destrancar dos cadeados.

Do interior do quarto veio o horror pavoroso de algo que nunca imaginei ver em toda a minha vida.

Duarte estava amarrado à cama. O seu rosto, outrora belo, estava completamente desfigurado, tinha os olhos vermelhos e sem vida. A boca estava torta e ensanguentada, e as veias inchadas erguiam-se dos braços e do pescoço como se estivessem prestes a explodir.

Duarte estava possuído!

O seu sono, aparentemente profundo fora quebrado pela minha presença.

Fui devorado pelo olhar temível que ele me lançou. Não o Duarte, mas o que estava dentro dele. Eu não estava preparado para aquilo, mas comigo trazia sempre um pouco de água benta, e foi o que eu lhe lancei para cima, proferindo frases em hebraico e latim, mas nada se alterou. Ele apenas sorriu e de seguida cuspiu-me para cima.

Abandonei o quarto e prometi regressar no dia seguinte, logo pela madrugada.

Algumas horas antes da aurora surgir já eu estava frente a frente com aquilo.

Tinha passado a noite toda a ler e a pesquisar sobre exorcismo e pessoas possuídas, e suspeitava de que Duarte estava possuído por Súcubo, o demónio o demónio violador, cuja lenda adopta o sexo masculino, tornando-se no demónio Incubus, e que se apodera do corpo de mulheres, possuindo-as.

Com o crucifixo na minha mão direita, clamei pelo seu nome:

- Súcubus!

Os seus olhos acenderam-se na escuridão do quarto e nem sequer me procuraram. Fixaram algo que eu não conseguia ver o que era. Seguidamente o corpo de Duarte deu o solavanco e vomitou na minha direcção

- Quero que abandones esse corpo e regresses para as trevas imediatamente, maldito – gritei.

Súcubus ergueu-se levando o frágil corpo de Duarte com ele, ficando cara-a-cara comigo. Senti o odor da sua boca fedorenta levitar até às minhas narinas.

- ABANDONA ESSE CORPO IMEDIATAMENTE! – Insisti.

A criatura iniciou uma sequência de convulsões violentas sem parar, levando de rojo o corpo de Duarte, que já devia estar prestes a sucumbir a tanta violência

Eu, incansavelmente, continuei a dar-lhe ordens de expulsão do corpo daquele jovem inocente.

Foram várias as horas que se assaram naquele tormento infernal, até que caí de cansaço no chão. Eu estava derrotado. Mas quando eu comecei a acreditar que Súcubus iria permanecer no corpo de Duarte, percebi que estava enganado demónio já não habitava lá. Os olhos tristes e cansados de Duarte olhavam-me sem expressão, e com um misto de curiosidade e pena.

Confesso que a forma como me contemplava me incomodou bastante, pois a sua expressão adoptava contornos cada vez mais estranhos e misteriosos.

Por fim percebi a razão pela qual Duarte me olhava assim: O demónio estava em mim. Sucubus tinha abandonado o corpo do Jovem e apoderara-se do meu. Quando percebi que Súcubus se tinha apoderado de mim, Gritei o seu nome: -Súcubus! Meu grande e eterno amor. Finalmente me tens! Finalmente tens o meu corpo só para ti. Sou a tua dádiva. Possui-me para sempre, porque sempre te procurei, meu amor! 
                                       
                                               Conto de Suspense
Isabela acordou no meio da noite, suada a casa silenciosa, ela morava com sua irmã menor de apenas 7 anos e sua mãe, ambas estavam dormindo, ela estava com frio, mas suava sem parar e decidiu ir para cozinha beber água para se hidratar, levantou da cama e se dirigiu a porta do quarto, mas o seu celular começou a tocar... Aquele horário da madrugada? Quem seria? 
Ela pegou o celular, de um modelo já ultrapassado do chão, ao lado de sua cama, e olhou o número, não conhecia... recusou a chamada e aproveitou pra usar o celular para iluminar o caminho, mas novamente antes de chegar na porta, o celular vibrou, ela se assustou, e viu que havia recebido uma sms: "Eu não sairia do quarto se fosse vc, e não ignore minha ligação" E o celular voltou a tocar...
"COMO ASSIM? EU NÃO SAIRIA DO QUARTO? COMO... " Ela correu pra fechar a cortina da janela. "IDIOTA!" e deixou o celular tocando até q parou e apareceu outra mensagem...
"Eu não estou te vendo pela janela" . Ela começou a ficar assustada, mas sabia q não tinha como ninguém entrar em sua casa, ela morava no 9º andar e a sua mãe sempre verificava a porta antes de dormir, trancando e passando a corrente de proteção, devia ser uma brincadeira, ou coincidência então decidiu ignorar, e continuou andando, com o celular na mão, ABRIU A PORTA DO QUARTO...

Nada acontecera, ela olhou pra trás no corredor e não tinha nada, o celular voltou a tocar, ela pensou em atender mais desistiu, mais uma sms: "Neste caso... Eu não voltaria pro quarto..." 
Ela olhou pra janela da sala, e viu q a cortina estava aberta, a pessoa provavelmente viu que ela tinha ido para a sala, mas quem seria o idiota? E como conseguiu seu cel? Será q alguma amiga do colégio que descobriu q ela era sua vizinha e resolver fazer uma brincadeira? Mas aquele número... Enfim, ela continuou ignorando, bebeu água, voltando deu dedo pra janela
E quando se dirigiu pra o corredor uma imagem a assustou, ela viu um vulto entrando no seu quarto rapidamente... ela não tinha animais de estimação... começou a ficar assustada, será q foi só impressão?
O telefone voltou a tocar, ela voltou pra sala e resolveu atender desta vez: "CUIDADO!" foi a unica coisa que a voz disse e logo dps desligou... Ela gelou, pq não foi qualquer voz... foi a voz da mãe dela! MAS OQ?? MINHA MÃE? ELE PEGOU MINHA MÃE? 
Ela foi até a cozinha correndo e pegou uma faca, e foi andando até o quarto, a mãe tentou alertá-la mas ela não iria deixar nada acontecer a sua mãe, e então ENTROU NO QUARTO!
A FACA EM PUNHO, OLHOU PARA CAMA E VIU UM VOLUME, A PESSOA ESTAVA TOTALMENTE COBERTA, ELA NÃO PENSOU DUAS VEZES, DESCEU A FACA NA PESSOA, Q SOLTOU UM GRITO... UMA VOZ Q ELA CONHECIA
NÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOO MÃE!!!! 
A coberta foi puxada a mãe dela estava gritando, com um celular na mão
"AAAAAAI MINHA PERNA" 
SANGUE ESCORRENDO...
- MÃE DESCULPA! CADÊ ELE?
- ELE QUEM? AAAAAI SUA IDIOTA! ERA SÓ EU BRINCANDO COM VC! AAAAI TA SANGRANDO, VC PODIA TER ME MATADO
- MAS FOI SEM QUERER MÃE! VOCÊ ME ASSUSTOU! AH MEU DEUS DESCULPA, EU VOU PEGAR UM PANO PRA COLOCAR AE, O CORTE TA MTO FUNDO? AH MEU DEUS! DESCULPA
- CORRE QUE TA SANGRANDO, CARAMBA ISABELA, SÓ QUERIA TE DAR ESSE PRESENTE, UM CELULAR NOVO, O SEU TAVA UMA PORCARIA!
- COMO EU IA ADIVINHA MINHA MÃE? EU ACHEI Q ERA ALGUM BANDIDO SEI LÁ! DESCULPA, AQUI O PANO  

                                           Conto de Terror 

Ela caminhava pela calçada alegremente, estava voltando da escola, o dia estava bonito, os pássaros cantavam, o vento soprava. Ela via os meninos jogando uma pelada no meio da rua, tudo como de costume. De repente, a bola caiu numa casa ao lado, parecia abandonada. Ela observava enquanto um dos meninos ia buscar a bola, ele saíra correndo, fora expulsado por uma velha ranzinza, todos correram, ela amedrontara à todos com seus cabelos brancos/grisalhos descuidados, ruins, destruídos, suas roupas não eram diferentes, dava pra ver do outro lado da rua, uma saia grande e rasgada nas pontas, uma blusa encardida e um charpe que cobria seus ombros. Segurando um pedaço de madeira, ela gritava e resmungava alguns dizeres, indizíveis. Olhava agora para a menina, o seu olhar lhe arrepiou, instintivamente ela correu com medo. A tarde passou e já em casa, a menina já se tranquilizara. O relógio batia 5 horas quando a campanhia tocou, ela correra pra atender, mas ao abrir a porta só o que viu foi o ranger de uma porta velha se fechando do outro lado da rua. Olhou para baixo e viu uma caixa com um cartão e um bonito laço, era um pedido de desculpas da humilde senhora do outro lado da rua, na caixa havia um bichinho de pelúcia, um lindo macaco peludo, com um leve sorriso, a menina agradecera em voz baixa àquela estranha mulher. Chegara a hora de dormir e a menina pusera o macaco na sua estante, servia de ótimo enfeite, junto com seus outro bixinhos. A luz se apagou, as horas se passaram, até que... a menina ouviu um leve sussurro, acordou desorientada, ligou a luz, não deu importância, não havia de ser nada. Tornou a desligar a luz e tentou dormir, quando ela ouviu de novo o sussurro e depois um grito, dessa vez mais alto, ligou a luz novamente - assustada - e viu que o macaco estava no chão, caído com uma faca do lado, ELA SE APAVOROU, SENTARA NA CAMA, TENTOU GRITAR, MAS AS PALAVRAS SUMIRAM DE SUA BOCA, NO SUSTO, ELA SE BATEU NO INTERRUPTOR QUE FICAVA AO LADO DA SUA CAMA, SEM LUZ, ELA SENTIU UMA DOR TERRÍVEL, O QUE A FEZ TOCAR NOVAMENTE NO INTERRUPTOR. GRITARA, GRITARA E MUITO. SUSTO, SANGUE E DOR. ELA OLHOU PARA O PRÓPRIO PÉ E VIU QUE SEU DEDÃO HAVIA SIDO DECEPADO, SEGUROU O PÉ COM AS DUAS MÃOS, CAIU NO CHÃO GRITANDO DE DOR, OLHOU AO REDOR, NÃO HAVIA MACACO ALGUM, apenas uma faca, sangue e um pedaço de dedo...

                                             Coração vermelho 
 "Uma menina estava sozinha em casa a noite, seus pais tinham viajado e chegariam cedo no dia seguinte, ela estava amedrontada, não gostava de estar sozinha em uma casa tão grande e escura, então resolveu ligar a TV, era o noticiário, para piorar sua situação a noticia era de um procurado da policia, havia fugido da cadeia no bairro vizinho ao que ela morava, e antes de sair o fugitivo alto, barbado e com a tatuagem de um coração vermelho em seu pé, havia escrito palavras de terror na parede da cela, avisando q mataria mais pessoas pelo que ele passou na cadeia, para mostrar que toda aquela pressão na qual ele foi submetido na cadeia, não mudava nada. Desesperada a menina desligou a TV e afundou na escuridão de seu quarto, tentou relaxar, fazia de tudo para tirar aquele pensamento de que o assassino poderia esta em sua rua no momento e então, colocou o travesseiro entre as pernas como de costume, e cobriu todo o seu corpo, fechou os olhos e tentou dormir, foi quando ela ouviu um barulho da sala antes de seu quarto, entrou em pânico, e ligou a TV novamente, e após ligar, um barulho de algo caindo na sala, como se alguém tivesse se assustado. Mas como? Ela estava sozinha! Quem estava lá? O que? Eram 3 da madrugada, seus pais não iriam ter chegado, ela começou a gelar, não sabia o que fazer, ouviu passos se aproximando, seu coração estava acelerado, ela começou a tremer, vontade de chorar, tinha que ser coisa da cabeça dela, mas então os passos aumentaram, e foram chegando mais perto, ela ficou em choque, e correu para debaixo da cama, e ficou lá prendendo o choro de pânico, sua veia pulsante de medo, uma pessoa entrou no quarto dela, e foi se aproximando, ela olhou por debaixo da cama, e só conseguia ver uma mancha vermelha, em um pé.... ERA UMA TATUAGEM DE CORAÇÃO EM UM PÉ MASCULINO
ELA PRENDEU A RESPIRAÇÃO, NÃO SABIA OQ FAZER!!!!!!!
E ENTÃO O SILÊNCIO.
O HOMEM PAROU COM OS PÉS BEM PERTO DELA, AO LADO DA CAMA E FOI BAIXANDO, ATÉ QUE ELE SE AGACHANDO PARA OLHAR EM BAIXO DA CAMA, ESTAVA COM SEU ROSTO E SEUS OLHOS BEM ABERTOS ENCARANDO A MENINA QUE EM PANICO GRITOU
O grito foi ficando estranho, ficando mais perto... E ela abriu os olhos, assustada com o próprio grito, e com o travesseiro entre as pernas, coberta até a cabeça..."
 


                                                        O escravo 
Sentindo a iminência dum pedido de casamento Inger se preparou pro jantar com cuidado especial e sem sacrificar da pontualidade. Corey gostava que suas mulheres fossem bonitas, pontuais e, normalmente, alguns anos mais jovens que Inger podia alegar ser. Mas, ainda beirando os 30 anos, ela se recusara a sofrer pontada de desespero durante o namoro de dois meses. Como um bom presságio, Corey a levou ao Windward. Era caro e íntimo. Velas bruxuleavam. Os martínis foram servidos em copos gelados. Depois da refeição, enquanto tomavam café e conhaque, os olhos dele se fixaram afetuosamente nos dela, sua voz baixou uma oitava. Se não fosse pelo fato da atenção dela se desviar subitamente a um homem de boca larga e sorridente, o momento poderia ter chegado. O sorriso do homem era tão efusivo e tão obviamente dirigido a Corey que ela teve certeza duma interrupção. Estava certa. O homem se aproximou da mesa e cortou o ânimo de Corey. — Olá, Core. Pensei ter te reconhecido antes mas está muito escuro aqui dentro. Ele presenteou Inger com uma exibição dos dentes brancos e compridos, alongando o rosto atarracado. Os olhos eram dum azul bem claro, o cabelo louro se encurvava no final de cada mecha. Inger olhou a Corey e sentiu um choque quase elétrico pelo que viu. Os músculos em torno da boca de Corey relaxaram, estavam tremendo. — Olá, Ray. — Disse Corey, balbuciando depois de breve hesitação. — Esta é Inger Flood. Inger, Ray Chaffee. Inger murmurou: — Como vais? — Que maravilha! — Disse Chaffee, com uma exclamação de admiração. — Tens muito bom-gosto, Core. Imagino que tiveram um jantar íntimo e extremamente agradável. E uma pena que tenhas de ir embora agora?, hem, Core. — Pelo-amor-de-deus!, Ray. — Mas tiveste sorte, Core. Eu poderia ter te reconhecido antes do filé. Foi filé, não é?, senhorita Flood. Core nunca teve muita imaginação pra comer. — Ambos comemos um filé. — Declarou Inger, decidida a se manter controlada. — Também não tenho muita imaginação. O sorriso se desvaneceu, deixando uma expressão de malícia afável. — Vamos logo, Core. — Disse Chaffee, a voz musical. — Trates de ir embora. Deixes o conhaque. O terminarei por ti. Ainda tens crédito aqui. Não é? Pois passes na caixa e avises pra porem a nota em tua conta. Vamos, Core, te mexas! O choque de Inger se transformou em perplexidade. Corey estava se levantando. — Inger, lamento muito... — Lamentas? Mas o que está acontecendo? — Tenho de ir embora. — Murmurou, desesperado. — Telefonarei a ti mais tarde. A tua casa. — Nada disso! — Interveio Chaffee, bruscamente. — Chega de telefonema nesta noite, Core. Pares de financiar a companhia telefônica. Vás a casa e te deites. Amanhã... Ora! Veremos o que se poderá fazer amanhã. Inger começou a se levantar também mas, inacreditavelmente, a mão do estranho estava em seu ombro, a empurrando de volta à cadeira. — Ficarás aqui, senhorita Flood. Não precisas ter pressa. — Mas o que é isso?! — Disse Inger, finalmente sentindo raiva. Corey, queres fazer o favor de dizer a esse homem... — Não precisas fazer onda. — Disse Chaffee, suave e zombeteiro. Se sentou ao lado de Inger. Corey hesitou mais um instante, até que Chaffee lhe sacudiu a mão bruscamente, num gesto autoritário. Corey se virou, como se atingido por um chicote invisível e se encaminhou à porta, a tensão estampada nas costas. Inger fez outra tentativa de se levantar mas Chaffee a segurou no cotovelo. — Fiques, por favor. Não vás ainda. Não é agradável ficar sentada aqui sozinha. — Não ficarei sentada sozinha. — Disse, rispidamente. — Nem contigo. E tires a mão de meu braço ou começarei a gritar. Poderás descobrir o que isso significa pra teu crédito. Não havia sinal de Corey na rua. Inger esperava que surgisse de repente num portal e explicasse a brincadeira. Mas, exceto por um táxi parado a alguma distância, a rua estava deserta. Fez sinal ao táxi. Na manhã foi despertada pelo telefone e não pelo despertador. — Inger? — Vás ao Inferno! — Não posso te culpar por estar tão zangada. — Murmurou Corey. — Não posso te explicar agora mas prometo que ainda o farei. Eu não sabia que Chaffee estava no restaurante. Pra ser sincero, nem sabia que estava na cidade. Pensei ter me livrado do filho-da-puta durante seis semanas, que sua companhia o tivesse enviado à América do Sul numa missão especial. — Ó, Corey, te cales! — Exclamou Inger, se sentando na cama. — Foi uma brincadeira de mau-gosto e ainda não estou completamente desperta pra ouvir um pedido de desculpa. — Queres almoçar comigo? — Não. — Por favor!, Inger. O encontrou num restaurante do qual nunca ouvira falar antes, num bairro fora de mão. Não fez conexão entre a obscuridade do restaurante e Ray Chaffee até que tateou o caminho no interior escuro pra alcançar a mesa isolada de Corey, no fundo. — Quero que me digas uma coisa, Corey. Estás te escondendo daquele homem? — Como assim? — Este buraco que escolheste parece ser freqüentado apenas por curtidores portugueses e gente parecida. O escolheste apenas por causa de teu amigo? — Não digas bobagem. — Corey sorriu. — É um restaurante agradável e sossegado. Muito bom pra namorar. Ele a beijou na boca, obtendo uma retribuição apenas parcial. Depois pediu os drinques e, sem esperar a pergunta, tratou de responder: — Claro que foi uma brincadeira o que aconteceu ontem na noite. Mas é uma coisa tão estúpida que quase desafia explicação. — Mas tentes explicar. — É uma espécie de aposta, uma brincadeira permanente que tenho com Chaffee. — Mas quem é? Trabalhas pra Chaffee? É teu patrão? — Não. É apenas um amigo, usando a palavra no sentido mais amplo. É engenheiro de computador. Estivemos juntos na universidade. Chaffee, eu e mais alguns outros tínhamos uma roda de pôquer que acabou sendo dissolvida por dois ou três casamentos. Sabes como são essas coisas. — Não. Não sei. A maneira como aquele homem ordenou que saísses. E a maneira repulsiva como obedeceste... Corey se recostou nas sombras e riu. O divertimento parecia genuíno mas Inger não estava convencida. — Devo ter parecido um idiota. Mas tinha de ser assim, meu bem. Não posso esperar que compreendas. Tudo o que espero... Abruptamente parou de falar. — O que é? — Não espero alguma coisa agora. Mas dentro de dois minutos... — O que mudará em dois minutos? — Talvez muita coisa. Corey meteu a mão no bolso e tirou uma caixa pequena, revestida de veludo. Inger prendeu a respiração, enquanto ele acrescentava: — Te lembras do que te falei daquela débil-mental de quem estava noivo? — Leila? — Isso mesmo, Leila. E te lembras de que falei que devolveu o anel de noivado? Inger ficou rígida enquanto ele levantava a tampa, mas a caixa estava vazia. — Não estou entendendo. — Eu não permitiria que usasses o maldito anel daquela mulher. Passei na joalheria nesta manhã e acertei uma troca. Podes passar lá a qualquer hora e escolheres o anel que quiseres. Isso é, se quiseres. Inger olhou da caixa vazia ao rosto dele mas outra imagem se interpôs. Era um garção, carregando um telefone vermelho. — Mas o que é isso? — Resmungou Corey. — Deve ser um engano. — Não, senhor — declarou o garção. — É mesmo pra ti, senhor Jensen. Corey pegou o fone e disse um alô perplexo. A centímetros de seu ouvido, Inger ouviu a voz metálica de Ray Chaffee: — Passarinho, passarinho, por que fugiste de casa? Ela está pegando fogo e teus filhos morrerão. — Ray, seu miserável! — Estás sendo insolente, meu velho. E sabes que não tolerarei insolência. — O que queres? Como soubeste que eu estava aqui? Estás me seguindo de novo? — Caias fora daí, Corey. Tua presença num lugar assim me ofende. Estou no outro lado da rua, numa cabina telefônica. Espero te ver passar a porta dentro de dois minutos. Não, serei camarada: Dou três minutos. — Corey, desligues esse telefone! — Interveio Inger, a cabeça zumbindo. Foi exatamente o que Corey fez. Inger pensou que a brincadeira terminara mas estava enganada. Corey estava largando o guardanapo em cima da mesa e empurrando a cadeira a trás. — Escutes, Inger... — Não! Não me digas! Irás mesmo embora? — Tenho de ir, meu bem. É uma coisa que não posso evitar. Tomes aqui! — Pôs a caixa de veludo na mão dela. — O nome da joalheria está escrito na parte de dentro da tampa. Talvez possas passar lá ao voltar a casa nesta noite. — Corey. — Disse ela, incisivamente — Se saíres daqui agora e não me explicar por que... — Peças algo pra comer. — Ele lançou um olhar nervoso à porta e largou uma nota de 10 dólares em seu prato. — Peças rosbife. É muito bom aqui. Ligarei a ti mais tarde. — Se fores embora agora, não quero que me telefones mais tarde! Mas ele foi. Inger não pediu o almoço. Usou o dinheiro pra pagar os drinques e foi embora sem se impressionar com o grunhido de insatisfação do garção. Chegou faminta ao escritório às 3h e comeu uma torta horrível comprada no carrinho de café. ● Corey apareceu no apartamento dela, sem avisar, em volta das 22:30h. Inger já se vestira pra deitar, com uma camisola tão transparente que a situação poderia ser provocadora. Mas o ânimo de Corey e também o dela, se diga de passagem, impediam qualquer coisa além de conversa e uísque. Se sentaram na pequena sala de estar, um tanto desarrumada. — Muito bem, Inger. Contarei toda a história. Não o podia fazer antes, pois isso fazia parte do acordo. Mas estive com Ray e concordou. Até gostou da idéia de saberes, o que proporcionou uma emoção vulgar ao desgraçado. Parou de falar, terminou o escocês que tinha no copo. Inger esperou recomeçar: — Sou seu escravo, Inger. Ele se levantou pra tornar a encher o copo, usando a ação como pretexto pra não a fitar. — Sei que parece absurdo, mas não é tanto assim. Não estou querendo dizer que me comprou num leilão de escravo ou que temos alguma relação sexual maluca no estilo de Krafft-Ebing. Ambos somos corretos, embora essa seja uma maneira um tanto exagerada de descrever Ray Chaffee. O que estou querendo dizer é que tenho de fazer tudo o que mandar, praticamente tudo. Claro que nada faria que me causasse um mal físico. Não pode me mandar, por exemplo, pular duma janela. Isso não estaria nas regras. — Regras? — Sou escravo há quase 10 meses. Restam menos de 10 semanas pra que tudo acabe. Mas não precisas ficar preocupada. Pensei muito em ti, pensei em nós, nesta situação, decidi que não deveria te encontrar, até que este maldito ano chegasse ao fim. Mas com Chaffee viajando, pensei que poderia correr o risco. — Correr o risco de quê? — Afinal, estava na América do Sul. Deve ter morrido de raiva por ser enviado até lá justamente agora. Estava começando a gostar de ter um escravo, de poder mandar nalguém e ser sempre obedecido. E se tornava mais mesquinho a cada dia, pensando em novas maneiras de me fazer sofrer. — Não posso estar ouvindo direito, Corey. Devo ter me deitado há uma hora e tudo não passa dum sonho. — No caminho a cá — continuou Corey, muito tenso — tentei decidir o que era pior: Contar a ti ou nada dizer. Qualquer que fosse a decisão eu poderia te perder. Não queres outro drinque? — Não. — Pois quero. Corey foi encher o copo mais uma vez. Quando voltou estava disposto a enfrentar os olhos dela. — Inger, contarei toda a verdade. Há cerca de 10 meses, Chaffee, eu e mais dois caras tínhamos uma roda de pôquer e garotas. — Não mencionaste as garotas antes. — Elas jamais atrapalhavam o pôquer. Seja como for, estávamos todos sentados em torno duma mesa numa noite, bebendo. Começamos a falar sobre escravidão. Isso é, a escravidão nos dias atuais. Ainda existe, sabes. Há muito tráfico de escravo no Oriente Médio e lugares assim. Houve uma coisa em que, todos concordamos. Ou melhor, duas. A primeira foi: A escravidão não é horrível? Nada há de original nisso, é claro, mas é o primeiro sentimento de quem sempre viveu à sombra da bandeira ianque. Mas também concordamos que a escravidão podia ser terrível pro escravo mas era, certamente, algo muito bom pro amo. Pondo de lado todas as considerações morais, o que há de tão ruim em ter dois ou três escravos? Encaremos a verdade: Devia ser uma coisa maravilhosa. Era o que fez a escravidão tão popular durante muitos séculos, mesmo em civilizações supostamente esclarecidas, como a grega e romana. Sabiam que era moralmente errado o que faziam mas não dispunham de máquina pra tornar a vida confortável e por isso justificavam a prática. Mesmo hoje, penses em todas as pessoas que vivem disputando criados. Te lembres das mulheres gordas nos clubes femininos, passando a metade da vida dando ordens às criadas e a outra metade falando delas. E quando uma delas diz Minha Bernice é uma jóia preciosa, está se referindo à criada mais como uma escrava, mais como se fosse uma preta escrava sulista dos velho tempo do que como empregada remunerada. Não estou certo? — Por favor, Corey, me poupes os comentários sobre a injustiça social. — Está bem. Está bem. O que estou querendo dizer é que a escravidão é atraente. Chaffee até encontrou uma citação de Tolstói a respeito, embora eu ache que só a procurou depois da aposta. — Aposta? — É sobre isso que quero falar: A maneira como tudo começou. Sabes quem foi Tolstói. Uma espécie de santo russo, defensor da liberdade individual. Só que escreveu, em seu diário, que a escravidão é um mal, mas um mal extremamente agradável. — Mas ainda continua a ser um mal. Não é? — Por que é involuntária. Os escravos não escolhem ser o que são. São arrebanhados por traficantes ou vendidos pelos próprios pais, como acontecia com as meninas na China antiga. Ou eram capturados em guerras, como no caso dos gregos e romanos. Mas se a escravidão fosse voluntária, se fechando o vazio moral... — Foi isso o que fizeste? Voluntariamente te ofereceste pra ser escravo? — De certa forma, Inger. De certa forma. Foi assim que a noite terminou, numa espécie de aposta que Chaffee e eu fizemos. Bebêramos muito, mas mesmo, assim definimos os termos, as regras e condições. Uma das regras era o sigilo e é isso o que está me permitindo violar nesta noite. — Estás falando sério? Não é brincadeira? — Não, Inger, não é brincadeira. Infelizmente, é a pura verdade. Chaffee apostou que eu não poderia sobreviver como seu escravo durante um ano. Mas o prazo está quase acabando. Eu ganho, ele perde e as coisas voltam ao normal. Mas eu não poderia desistir agora. Entendes? Depois de 10 meses eu seria louco se desistisse, mesmo que me pedisses, mesmo que impusesses uma condição pra encher aquela caixa que dei a ti. — Não achas que estás querendo demais? — Eu não poderia desperdiçar esses 10 meses, Inger. Chaffee me fez conhecer o Inferno e pode se tornar ainda pior, mas não lhe darei a satisfação de desistir antes que o ano termine. — Pareceis duas crianças estúpidas! Deveríeis levar uma boa surra! — Não foi tão terrível assim no começo. — Disse Corey, olhando o teto. — Chaffee não estava acostumado a ter um escravo. A princípio me pedia pra fazer as coisas, era polido, sempre usava por favor. E todas as ordens eram ínfimas, como fazer pequenos serviços, ir à biblioteca, chamar táxi. Era um trabalho fácil. — E depois mudou? — Não podia me pedir pra fazer algo que pusesse em risco minha saúde, emprego ou dinheiro... — Mas podia te humilhar. Eis algo que podia fazer. Não podia me obrigar a fazer coisas malucas em público. Nada que pudesse fazer com que a polícia me prendesse. Mas qualquer outra coisa. Sou obrigado a fazer ou não seria seu escravo. Entendes? Um escravo obedece sem questionar. Isso é a própria essência, a incapacidade de recusar as ordens do amo. Mas Chaffee levou muito tempo, quase meio ano, pra descobrir alegria nisso. — Alegria? — Isso mesmo. — Corey revirava o copo entre as mãos, interminavelmente. — Há uma alegria nisso, quase um êxtase. É mais do que a conveniência de ter alguém pra executar todas as ordens. No fundo há algo de poder. É por isso que as pessoas se digladiam buscando poder político, social, financeiro. Qualquer um. É o prazer de dominar as pessoas, a fazer obedecer pelo simples ato de estalar o chicote. Inger deixou escapar um muxoxo de repulsa. — É verdade, meu bem. Sou o escravo e é o amo, mas posso perceber o que faz. O poder total sobre outro ser humano. Depois de seis meses Chaffee começou a sentir que o tempo se escoava rapidamente e foi ficando desesperado e mesquinho. As ordens se tornaram mais brutais e mais freqüentes. Foi nessa ocasião que deixamos de ser amigos e nos tornamos o que somos agora: Amo e escravo. Apenas isso, nada mais que isso. E foi também nessa ocasião que começou a gostar. Inger se aproximou dele, parecendo inebriada e linda. — E não desistirias? Nem mesmo que eu pedisse? — Já te disse. Se tivéssemos nos conhecido há cinco ou seis meses, antes de Chaffee começar a estalar o chicote, talvez eu estivesse disposto a desistir, a perder todos os meses que já investira. Mas não agora. — Corey, me amas? — Por-deus-do-céu! Ainda não disse isso? ● Mais tarde, ela pediu de novo. — Não, Inger, não é possível. Achas que aquelas situações nos restaurantes foram horríveis? Pois já houve outras bem piores. Tenho feito todos os tipos de serviço sujo. Já fui seu valete, mordomo, faxineiro. Já abri mão de muitas noites, de fins de semana, até das horas de almoço, sempre que assim quis. E então passou a me seguir em toda parte, me obrigando a renunciar a hábitos, prazeres, amigos. — E às mulheres também? — Me obrigou a romper com todas as namoradas. Houve uma ocasião, quando procurou a garota com quem eu saía e contou o que eu era. — Pensei que as regras básicas. — Só se aplicam a mim. O amo não precisa guardar segredo. Só o escravo está obrigado. E naquela noite contou a ela. E a débil mental... — Foi Leila? — Isso mesmo. E talvez Chaffee me tenha feito um favor nesse caso. Mas não esquecerei a maneira como nos abordou. — E disse a ela que eras seu escravo? — Disse e provou. Me obrigou a rastejar na frente dela. E aquela débil mental riu. Achou que era engraçado, hilariante. Pediu a Chaffee que a deixasse ter um pouco de ação, queria brincar também. E no resto da noite fui também escravo dela, porque isso é parte do acordo. Se tens um amo passas a ser escravo de toda a raça humana. — Oh, Corey! — Inger pressionou o rosto contra o ombro dele. — Como pudeste agüentar isso? Por que não o mataste? Eu teria esmagado a cara dele e a dela também! — Tens razão, Inger. Os escravos se revoltam. E isso faz parte da diversão. Só que eu não o podia fazer. Entendes? Havia investido demais. O telefone tocou. Já passava de meia-noite e o telefone de Inger era normalmente silencioso naquela hora. — Devo atender? — Sussurrou ela. — achas que é... — Tenho certeza que é. Inger atendeu e a voz de Ray Chaffee disse, suavemente: — Como vais?, boneca. Estás com o ouvido doendo? Nosso garotinho já chorou todas as mágoas? — Estou contente, que tenhas ligado, senhor Chaffee. — Disse Inger. — Muito satisfeita. Assim tenho a oportunidade de dizer o que penso a teu respeito. — Poupes teu fôlego. — disse Chaffee, friamente. — Me deixes falar com o rapazinho. — Só depois de me ouvires. — Me enches o saco e eu descarregarei em cima dele. Estás entendendo?, boneca. Inger hesitou um instante mas acabou passando o fone a Corey. E o ouviu dizer: — Está certo. Já entendi. Está bem. Está bem. Eu disse que faria e farei. Suspendeu o telefone, na direção de Inger. Mas não a olhou, enquanto dizia, a voz sem inflexão: — Ray quer que eu vá embora agora, meu bem. Mas não quer que fiques solitária. Disse que terá o maior prazer em vir até aqui pra fazer companhia a ti. Disse que conhece uma maneira de te manter quente e satisfeita. — Corey! — Eu agradeceria se concordasses, Inger. Não posso te obrigar, é claro, mas consideraria um grande favor a mim se deixasses Ray subir agora. Via fone ela podia ouvir o risinho seco e musical de Chaffee. — Saias daqui! — Gritou Inger. — Sumas da minha frente!, Corey. — Por favor, Inger. Poderia ao menos falar com ele? Ele estendeu o fone a mais perto mas Inger recuou. Corey engoliu em seco e tornou a aproximar o fone de sua boca, dizendo: — Com todos os diabos, já fiz o que mandaste! Mas ela não quer falar contigo e isso é uma coisa que não posso controlar! Desligou e se virou a Inger, com os olhos marejados de lágrima. — Prometi que diria isso, meu bem. Era o preço por te contar a verdade. — Não me ouviste? Sumas daqui, Corey. Não te quero aqui. E nunca mais quero tornar a te ver. Nunca mais! Corey deu de ombros. Não era um gesto de indiferença mas de resignação. E depois saiu, fechando a porta sem fazer barulho. ● Inger não tornou a ter notícia dele até o fim de semana. Corey telefonou na tarde de sábado e falou cum sussurro de conspirador: — Estou na galeria Frederick. Na Médisson. Inverti as posições desta vez e passei a o espionar. Seu apartamento fica no outro lado da rua e acabei de o ver saindo com o carro. Assim, podemos nos encontrar em segurança. — Pode ser seguro mas não significa que eu queira te ver. — Disse ela, friamente. Mas Inger acabou indo à galeria. Estava cheia de paisagem ondulante. Corey a recebeu cum sorriso triste e disse: — Esqueci de pedir que trouxesses dramamina. Em vez de rir Inger começou a chorar, embora não alto demais que incomodasse os demais freqüentadores da galeria. Corey a levou a um canto, protegendo a ambos com o cardápio, enquanto dizia. — Tenho uma idéia. Meu acordo com Chaffee durará mais nove semanas. Não quero te ver até lá. Nem tentarei te encontrar. Acabaria descobrindo. E isso só serviria pra piorar a situação. — Nove semanas? Mas isso é terrivelmente injusto!, Corey. — Mas é o único jeito. É melhor o fazer pensar que rompemos, pois só assim nos deixará em paz. Te deixará em paz. Depois disso, caso não tenhas conhecido outro homem que te interesse, até lá... — Seu idiota! — Disse ela, tragicamente, o segurando nas lapelas. — Achas que eu poderia querer algum outro? — Vamos até a joalheria, Inger. Agora. Se estiveres com meu anel no dedo, talvez isso faça uma grande diferença. Ela escolheu um diamante solitário, sem baguete ou engaste fantasioso. Corey achou que o anel era desnecessariamente austero, mas Inger queria assim mesmo. Voltando a casa o lembrou de que ainda não fizera um pedido de casamento formal. Ele disse que queria o cenário romântico apropriado. Assim, subiram a rua 59 e pegaram uma charrete, entrando no parque. Inger chorou durante a maior parte do tempo, mesmo depois do pedido de casamento. O abraçou freneticamente, sussurrando: — Corey, vamos juntos até minha casa. Não me deixes agora. Viste aquele homem horrível se afastando. Talvez não nos incomode. Venhas comigo, por favor, Corey. Foram ao prédio de apartamento em que Inger morava. Um pequeno conversível marrom estava estacionado perto do toldo da frente. Ray Chaffee não estava ao volante mas Corey conhecia o carro. — Está aqui, Inger. É melhor eu ir embora. — Não, Corey, por favor! Pode estar esperando no saguão ou no corredor, lá em cima. E tenho medo dele! — Não precisas ter. Não tem como te dominar. Se tentar algo digas que chamarás a polícia. Se ameaçar contra mim digas que não te importas, que já rompemos. — Isso é horrível! — Telefonarei a ti mais tarde. Corey se virou e se afastou rapidamente. Exatamente como receara, Inger encontrou Chaffee esperando, sentado numa poltrona azul bastante velha, no saguão. — Boa noite, senhorita Flood. Por acaso viste nosso amigo, senhor Jensen? — Não, não tenho visto teu amigo e também não quero ver. Nunca mais! — Nesse caso não estarias procurando um novo amigo? — Ele sorriu. — Não sou uma mercadoria tão desprezível assim. Talvez um pouco suja mas ainda capaz de prestar bom serviço. — Boa noite. — disse Inger, quando elevador chegou. Mas ele pôs a mão na porta. — Não comeces com brincadeira, senhorita Flood. Onde estás escondendo o rapazinho? O meteste no armário ou debaixo de tua cama? Inger ficou parada. Havia um porteiro nas proximidade, provavelmente lendo o Daily News na frente do elevador de serviço. Pensou em o chamar mas acabou mudando de idéia. — Está bem. Por que não sobes e verificas pessoalmente? De qualquer forma, preciso perguntar uma coisa. Ele ficou surpreso. Durante um momento Inger o deixou desequilibrado mas, entrando no apartamento, se recuperou e passou o braço na cintura dela. Inger deu um passo de dança pra se desvencilhar e disse: — Quero que me faças um favor. Canceles essa aposta que fizeste com Corey. Ele ficou desconcertado e divertido. — Queres que eu liberte o escravo? Que emita uma proclamação de emancipação? — Isso mesmo. Já está cansado da brincadeira e acho que o mesmo acontece contigo. Por mais estranho que pudesse parecer, o sorriso se desvaneceu. — Queres saber duma coisa? Tens toda razão. Se tornou um fardo terrível, não apenas ao pobre Corey mas também a mim. Sabia que dá muito trabalho ter um escravo? É uma responsabilidade e tanto. É como herdar uma grande fortuna. A pessoa fica na obrigação de ter sempre de fazer algo a propósito. Acordo, às vezes, durante a noite, tentando imaginar como poderei usar Corey no dia seguinte. Parece doentio. Não é? Mas provavelmente estás pensando que sou doente. Corey deve ter dito que sou mesquinho e brutal. — E não é verdade? — Todos os amos parecem mesquinhos e perversos a seus escravos. Mas não te preocupes. O velho Corey terá o que merece. — Quanto vale? — Como? — Quanto vale vossa aposta? Estou disposta a fazer um acordo, senhor Chaffee. — Não sei do que estás falando. — Estás apavorado com a possibilidade de Corey completar um ano de escravidão. Não podes deixar de tentar imaginar as coisas mais horríveis pra o obrigar a desistir. Mas também tenho direito a Corey. E se fizeres o que eu disser, darei um jeito pra que fiques com teu dinheiro. Tornando a sorrir, ele perguntou: — É uma proposta? — É, sim. Se suspenderes a aposta, imediatamente, prometo que receberás até a última moeda que Corey ganhar. — Achas mesmo que podes controlar o rapazinho à vontade? Mas que coisa interessante! Chaffee passou a mão no cabelo louro e liso. Então foi avançando, lentamente, em direção a Inger. — Queres saber duma coisa? Recomendo que experimentes outra forma de persuasão. Não podes compreender como tenho pouco interesse por dinheiro. As mãos dele estavam em cima de Inger, que deu uma volta com o corpo e se descobriu nos braços dele. Chaffee era mais forte do que parecia e ela ficou apavorada. O golpeou com a mão esquerda, no rosto. Bateu com toda força e sentiu a ponta do diamante cortar a carne. O olho se avermelhou e inchou quase que no mesmo instante. Chaffee soltou um berro de dor e cobriu o rosto cuma das mãos. — Me machucaste! — Gritou ele, furioso. — Sua estúpida! Por que tinhas de fazer isso? Ele tirou do bolso um longo lenço impecavelmente dobrado e o comprimiu contra o rosto. Olhou depois o vestígio de sangue no lenço. Empalideceu e Inger chegou a pensar que ele desmaiaria. — Sua estúpida! — Repetiu Chaffee. Ele tornou a comprimir o lenço contra o rosto e saiu pela porta. Inger olhou o anel de noivado em seu dedo, tocou no diamante e disse em voz alta: — O melhor amigo duma mulher. ● Ela não sabia que horas eram quando as batidas começaram! Sabia apenas que não era uma hora oportuna pra alguém fazer todo aquele tumulto na porta de seu apartamento. Olhou o mostrador luminoso do relógio no criado-mudo. Já passava de três horas da madrugada. Pegou o roupão no pé da cama e foi à sala, querendo apenas silenciar aquelas batidas terríveis e obscenas em sua porta. A abriu e deparou com os dois, Chaffee e Corey. Chaffee sorria horrivelmente. Havia algo disforme no sorriso, algo no rosto que pertencia ao nevoeiro dum pesadelo. Inger levou um momento pra descobrir que o problema estava no rosto. A face estava inchada, meio arroxeada, a pele lustrosa e esticada. Desviou a cabeça e olhou a Corey, imaginando por que romperiam o sossego de sua noite. Depois que todos foram à sala de estar, Corey encontrou o interruptor que inundou a tudo com uma claridade desagradável. — O que aconteceu?, Corey. — Inger... — A voz era sufocada, os punhos estavam cerrados. — Que deus-me-ajude agora, Inger. Não deverias ter feito o que fizeste... — Digas a ela. — Ordenou Chaffee. Corey estendeu o braço e tocou no braço dela. — O machucaste, Inger. E poderia ter sido um ferimento muito grave. — Diga a quem ela machucou. — Ordenou Chaffee. — Ao mestre. — Disse Corey, os dentes cerrados. — Olhes o que fizeste com ele, Inger. Estás vendo? — Me largues!, Corey. — Disse Inger. — E agora digas a ela. — Acrescentou Chaffee. — Vamos, Corey, diga à senhorita Flood o que tem de fazer. — Não te zangues comigo, querida. Depois desta noite não irei. Prometeu que nada mais haveria depois desta noite. Te deixaremos em paz. Nós dois. Mas tens de o fazer. — Fazer o quê? — Dar um beijo. — Disse Corey. — Sinto muito, Inger. Beijes o olho. O machucaste. Está realmente muito ferido. Beijes o olho, Inger! A empurrava em direção a Chaffee, forçando o rosto dela a encontro do olho ferido. Chaffee estava sorrindo. Só que não era um sorriso mas uma máscara de morte, um risus sardonicus. Inger gritou e bateu em Corey, que tentou segurar suas mãos. Inger podia ver o sofrimento estampado no rosto dele. O detestava e ao mesmo tempo sentia pena. Corey conseguiu finalmente imobilizar os pulsos dela e estava gritando alguma coisa a Chaffee. Inger ficou inerte, enquanto Corey a conduzia ao sofá. Ela fechou os olhos e ouviu Corey dizer outras coisas a Chaffee, meio irado, meio apaziguador. Ela não abriu os olhos até ouvir Chaffee dizer: — Muito bem, rapazinho. Já cumpriste teu dever. Inger virou a cabeça e divisou Chaffee se encaminhando à porta. E Corey o seguiu. O escravo, obediente, cumprida a tarefa, acompanhava o amo. Saíram, deixando Inger sozinha. ● Setembro passou e depois a maior parte de outubro. Inger só teve notícia de Corey uma vez. Era uma carta, mal datilografada no papel timbrado do escritório. E dizia: Inger Sei que agora me odeias. Faz sentido dizer que eu te amo? Os grilhões se rompem no domingo, 28 de outubro. Então ligarei a ti. E não te culparei por algo que possas me dizer. Corey Ela conhecera um homem com quem simpatizara no início de outubro. Era atraente e parecia ter dinheiro. Saiu com ela três noites numa semana e tentou a seduzir no fim de semana seguinte, embora sem muito empenho. Quando Inger começou a chorar, ele a levou a confessar que estava apaixonada por outro homem. Ela tentara pensar em Corey como morto, desaparecido, alguém que fora embora a sempre. Mas sabia que nenhuma dessas coisas era verdade. Ele ainda estava perto e 28 de outubro, o dia da libertação, estava próximo. Inger disse ao homem que não o veria mais. Na sexta-feira anterior ao dia 28 uma amiga chamada Sílvia foi à casa de Inger, a fim de lá passar o fim de semana. Seu apartamento estava sendo pintado e ela era alérgica ao cheiro de tinta. Ela passou a maior parte do tempo falando sobre um homem chamado Leonardo, que era casado, pedindo conselho a Inger, em voz queixosa, e ficando emburrada sempre que ouvia a opinião de que devia o largar. Na noite de sábado, estimulada pelo álcool, Inger perdeu o retraimento normal e falou a Sílvia sobre Corey Jensen. A amiga ficou escutando, fascinada, seus próprios problemas românticos momentaneamente esquecidos. Concordou efusivamente com a conclusão de Inger: — Terrível! Pavoroso! Podes estar certa de que ficas muito melhor sem ele! Quanto mais falava a respeito de Corey, no entanto, quanto mais Sílvia concordava, mais Inger compreendia o quanto sentia saudade dele. — Achas que telefonará? — Indagou Sílvia, de olhos arregalados. — Achas que terá essa coragem? — Não sei. Sílvia ainda estava dormindo, na manhã de domingo, quando Inger acordou e começou a olhar o telefone. Ainda não tocara às 2h, quando Sílvia foi embora, ansiosa em não perder um encontro vespertino com Leonardo. Às 3h, Inger chegou à conclusão de que seu orgulho não valia o suspense. Ligou ao apartamento de Corey. O telefone estava ocupado e ela desligou apressadamente, na esperança de que fosse Corey tentando lhe falar. Nada aconteceu. Quinze minutos depois já discara o número tantas vezes que o dedo estava doendo. Se forçou a esperar meia hora antes de tornar a discar. O telefone, tocou muitas vezes mas ninguém atendeu. Inger se censurou por tomar uma decisão errada. Vestiu uma capa pouco depois das 4h e saiu. Pegou um táxi pra ir ao apartamento de Corey, tentando não pensar no certo ou errado, em orgulho ou vergonha. Inger esperava ter de enfrentar a necessidade de acampar na porta dele mas teve sorte. Corey abriu a porta, carregando o telefone como se fosse uma valise. — Espero que seja a mim que estás ligando. — Disse ela, jovialmente. — Ou já esqueceste que prometeras telefonar? Ele retorceu o fio do telefone entre os dedos. — Juro que eu ligaria a ti, Inger. Só que aconteceu um problema. Me dês só um minuto. — Está certo. Eu não estava mesmo esperando que te jogasses a meus pés. Mas ainda estou com teu anel e precisava descobrir se deseja que o conserve. — Claro que é justamente isso o que estou querendo! As palavras deveriam ter sido acompanhadas por um abraço, mas Corey ainda estava ocupado com o telefone. — Te sentes, meu bem. Esperes só um minuto, enquanto dou este telefonema. Ele pôs o telefone na mesa e discou. Alô? Aqui é Corey Jensen de novo. Já sei. Já sei. Mas pensei que poderias ter sabido algo desde... — A voz se alterou, furiosa. — Mas trabalhas pra ele! Está bem. Está bem... Basta dar meu recado. Desligou, batendo o fone com toda força. — O que foi?, Corey. Pareces não estar muito bem. — Inger, faças o favor de esperar. Estava discando outra vez, o rosto molhado de suor. Precisava fazer a barba, os fios brilhavam com a umidade. — Marta? Sou eu, Corey. Sei que é muito difícil, mas viste Ray?... Não, não estou querendo insinuar algo. Queria apenas saber se o viste. Sabes se Ronnie está em casa? Não, não precisas te incomodar. Se não sabes onde Ray está, com certeza não vai aparecerá aí. Não posso falar agora. Já estou atrasado. Adeus, Marta. Ele desligou. Antes que pudesse discar de novo, Inger interveio: — Já chega!, Corey. Se não podes dispor dum minuto pra mim entre telefonemas, então é melhor eu ir embora! Ele reagiu suavemente à ameaça: — Não entendes, meu bem. Estou tentando o encontrar. Não está no apartamento e a criada não sabe onde. — Quem? — Ray Chaffee. Sumiu! — Corey esfregou as mãos na calça, nervosamente. — Acho que o desgraçado está tentando fugir! — Por causa da aposta? Por que venceste? O telefone tocou e ele saltou pra atender. — Isso mesmo, sou senhor Jensen. É verdade, pedi a ligação. Alô? Senhor Valdez!... Isso mesmo. É urgente localizar senhor Chaffee. Acho que está embarcando num avião da Panagra hoje mas não sei qual é o vôo... É, sim, uma questão de vida ou morte... Uma pessoa de sua família está muito doente... Sei que é contra o regulamento, mas... Como? Ele fez uma pausa, os olhos faiscando. — Já entendi. Vôo 33, decolando às 6:30h... Não, um recado não adiantará. Poderá pensar que é um engano... Posso chegar ao aeroporto a tempo... Muito obrigado, senhor Valdez. Desligou, exalando fúria e triunfo. — É mesmo verdade! Está tentando trapacear indo à América do Sul! — Não estou entendendo, Corey. — A viagem em junho. Estava arrumando um emprego lá, preparando a fuga. — Mas por quê? Ele perdeu tanto dinheiro assim? — Tenho de sair agora, Inger. Preciso chegar ao aeroporto a tempo. Se encaminhava ao armário mas Inger se postou na frente. — Dinheiro? — Gritou Corey. — Achas mesmo que apostamos dinheiro? — Mas apostastes! — Só que nunca falei em dinheiro. Essa foi tua conclusão. E também não foi propriamente uma aposta. Foi uma troca, um acordo, uma barganha. Entendes agora? — Corey! — Agora pensa realmente que estou doente. Não é? Pois podes pensar o que bem quiseres. Mas uma coisa posso garantir, Inger: Não conseguirá escapar. Teve seu ano e agora terei o meu! — Um ano? Está querendo dizer que é teu escravo agora, durante um ano? — Isso mesmo, meu bem. senhor Chaffee pagará sua dívida. Me obrigou a pagar e agora é sua vez. Estou com o chicote na mão e terá de pular quando eu mandar, mesmo que eu tenha de o arrancar a força daquele avião! Fez menção de seguir à porta e Inger o segurou no braço. — Pelo-amor-de-deus!, Corey. Não faças isso! O deixes ir embora. Não podes fazer consigo o que fez contigo. Seria horrível demais. Não é humano! — Pares com isso!, Inger. É uma longa viagem até o aeroporto e preciso... — Corey, eu não poderia suportar outro ano assim! — Mas será que não entendes que desta vez não será a mesma coisa? Desta vez é o escravo e eu o amo... Isso não faz diferença! Não há diferença entre as duas coisas! Eu não poderia me casar contigo nessa circunstância. Não poderia suportar! Não me casarei contigo!, Corey. Durante um momento a respiração dele se aquietou, os olhos perderam um pouco do brilho febril. Então disse: — Sinto muito, Inger, mas não posso evitar. Nada posso fazer agora. Já é tarde demais. Saiu rapidamente, fechando a porta. Inger se adiantou e tornou à abrir, gritando enquanto ele se afastava no corredor, a caminho do elevador, uma voz tão estridente como ela nunca imaginara que possuísse: — Vás logo! Podes ir! Vás procurar teu precioso escravo! Espero que sede mui felizes um com o outro! Inger fechou a porta, sentindo que devia chorar, mas incapaz de produzir lágrima. E pensou: — Aposto que serão mesmo muito felizes. Tenho certeza de que serão.


                                 VELHO DA MADRUGADA 

FIM DE TARDE. ALÉM DAS RUAS SEMI ESCURAS E DO SILÊNCIO QUE ALI PREDOMINAVA, DUAS GAROTAS CONVERSAM AO TELEFONE:
- LIS, QUAL É A BOA?
- NÃO TENHO NENHUMA NOVIDADE, ROSE. MAS, ESTOU PLANEJANDO UMA FESTA DE PIJAMAS COM ALGUMAS GAROTAS DAQUI DA RUA,
 SE QUISER VIR... O CONVITE ESTÁ FEITO.
- FESTA DE PIJAMAS? E OS SEUS PAIS?
- MAMÃE FOI VISITAR A VOVÓ E SÓ VOLTA NO FIM DE SEMANA. E O PAPAI PEGOU HORA EXTRA NO TRABALHO E SÓ VOLTA AMANHÃ
 ÁS SEIS... E ENTÃO? VAI VIR?
- AI AMIGA! EU NÃO SEI O QUE FAÇO PARA SAIR SEM QUE MEUS PAIS VEJAM, ALÉM DO MAIS, 
ELES NUNCA DEIXARIAM QUE EU SAÍSSE À NOITE, AINDA MAIS SE FOR PARA UMA FESTA DE PIJAMAS.
- ISSO NÃO É PROBLEMA! DIZ QUE VEM AQUI EM CASA TERMINAR UM TRABALHO, AQUELE DE FÍSICA QUE COMBINAMOS TERMINAR DEPOIS... 
APROVEITA E USA ELE COMO DESCULPA PARA VIR À FESTA. A VELHA NÃO VAI NEM SACAR QUAL É A SUA.
- PODE DEIXAR! EU ESTAREI AÍ, ÁS OITO?
- OITO NÃO BOBINHA! OITO É MUITO CEDO... VENHA ÁS DOZE.
- DOZE? VOCÊ ESTÁ MALUCA?
- ESSE É O HORÁRIO, NINGUÉM RECLAMOU! SÓ VOCÊ QUE FICA AÍ ENROLANDO! SE QUISER VEM, SE NÃO QUISER... TENHA UMA PÉSSIMA NOITE COM SEU TRAVESSEIRO.
- ESTÁ BEM, ESTÁ BEM! EU VOU!
- ENTÃO, NOS ENCONTRAMOS ÁS DOZE?
- SIM... ÁS DOZE!
FOI MARCADA, ENTÃO, A FESTA. O RELÓGIO DE PAREDE NA CASA DE ROSE, SOAVA ALARMES DA MADRUGADA, SIM, DOZE E VINTE E DOIS DAQUELA MADRUGADA.
 ROSE ENFRENTAVA PROBLEMAS PARA SAIR DE CASA, EVIDENTEMENTE, VINTE E DOIS MINUTOS ATRASADA.
- O QUE FAZ ACORDADA, ROSE? - PERGUNTOU A MÃE.
- SABE O QUE É, MÃE? EU PRECISO TERMINAR UM TRABALHO AINDA HOJE... AQUELE TRABALHO DE FÍSICA...
- ENTÃO, O QUE ESTÁ ESPERANDO PARA COMEÇAR A FAZER?
- O PROBLEMA É QUE, A LIS, AQUELA MINHA COLEGA DO COLÉGIO, ESTÁ ME ESPERANDO NA CASA DELA.
- TE ESPERANDO A ESSA HORA DA MADRUGADA?
- NA VERDADE ELA ME CHAMOU PARA... DORMIR EM SUA CASA. VOU APROVEITAR PARA LEMBRÁ-LA DO TRABALHO.
- NÃO SEI NÃO, ROSE... SEU PAI NÃO VAI GOSTAR MUITO DA IDEIA DE VER VOCÊ SAINDO EM TAL HORÁRIO.
- AH, MÃE! O PAPAI NÃO PRECISA FICAR SABENDO! VAI, DEIXA! EU NÃO POSSO DESAPONTAR A LIS.
- ESTÁ BEM, VOU CONFIAR EM VOCÊ! ME DÁ O NÚMERO DO TELEFONE DOS PAIS DELA, PRECISO AVISÁ-LOS.
- MÃE, OS PAIS DA LIS ESTÃO DORMINDO, E ELA COM CERTEZA JÁ FALOU QUE RECEBERIA UMA AMIGA.
- OLHE LÁ ROSE! ASSIM QUE CHEGAR, LIGUE PARA MIM, TUDO BEM?
- TUDO! VOCÊ É A MELHOR MÃE DO MUNDO!
ROSE SAIU DEPRESSA, POIS, ESTAVA SUPER ATRASADA E PROVAVELMENTE SE ATRASARIA AINDA MAIS DEVIDO AO LONGO CAMINHO 
A PERCORRER ATÉ A CASA DA AMIGA. O CHEIRO DA MADRUGADA E O FRIO QUE ESTA FAZIA NÃO AMEDRONTAVA A MENINA TÃO QUANTO O VELHO
 QUE A SEGUIA. A CENA DE UMA MENINA SENDO SEGUIDA POR UM HOMEM DE APARÊNCIA VELHA COM UM SOBRE-TUDO E COM UM CHAPÉU MARROM 
MEIO QUE SUJO, TENDO NOS BOLSOS AS MÃOS, JÁ PODIA SER ASSISTIDA NAQUELA MADRUGADA. E A MENINA DESESPERADA CORREU O MAIS RÁPIDO 
QUE PÔDE, MAS, AINDA PERCEBIA QUE ERA ALVO DE UMA PERSEGUIÇÃO. ENTÃO, RESOLVEU PARAR DE ANDAR E OBSERVAR O VELHO, PARA VER SE 
REALMENTE ELE A SEGUIU TODO ESSE TEMPO. O VELHO PASSOU POR ROSE NATURALMENTE, COMO SE ESTIVESSE FAZENDO UM PASSEIO. A MENINA DEU 
UM SUSPIRO DE ALÍVIO, RELAXOU E PENSOU: "COMO EU SOU MALDOSA EM SUSPEITAR DE UM VELHINHO INOCENTE FAZENDO SEU PASSEIO DA MADRUGADA". 
DER REPENTE, MÃOS ENRUGADAS TOCANDO NOS SEUS OMBROS E UM SUSURRO NO OUVIDO, DIZENDO:
- NÃO DEVERIA ANDAR SOZINHA A ESSA HORA DA MADRUGADA... ONDE SEUS PAIS ESTÃO QUE NÃO VÊEM ISSO?
ASSUSTADA, A MENINA NÃO PENSA DUAS VEZES E SAI CORRENDO, SEM DIREÇÃO. E O VELHO PARECE NÃO SE IMPORTAR, POIS, JÁ HAVIA ARRANCADO AS CABEÇAS
 DAS MENINAS DA FESTA DO PIJAMA E SÓ FALTAVA UMA, ENTÃO... ELE PODERIA VOLTAR OUTRA MADRUGADA PARA PEGAR A QUE FALTAVA.  
E ASSIM, O VELHO DA MADRUGADA FAZ O SEU PASSEIO EM BUSCA DE CABEÇAS DE CRIANÇAS QUE PERMANECEM ACORDADAS ATÉ TARDE DA NOITE... ROSE ESCAPOU 
POR POUCO, MAS, MUITAS OUTRAS MADRUGADAS ESTÃO POR VIR!



A CASA DO LAGO
Yara estava realmente apertada para ir ao banheiro. Estacionou seu carro na garagem, abriu a porta e saiu praguejando contra a vontade insuportável de urinar, nem se importando em fechar a porta ou desligar o rádio que guinchava aos acordes alucinados da guitarra de Jimi Hendrix. Ela e o marido estavam passando alguns dias em sua casa no lago, que fica em uma região praticamente desabitada no interior do estado. Nessa época do ano não havia movimento nenhum por perto, e ficaria assim por alguns meses, até que chegasse a época das férias escolares, e era exatamente isso o que eles estavam procurando quando decidiram passar uns dias na casa do lago. Eles queriam uma espécie de segunda lua-de-mel. Ela acabara de voltar do supermercado e achava que se demorasse mais um segundo para ir ao banheiro não agüentaria e acabaria urinando nas calças. A porta da sua casa parecia estar a anos luz de distância e ela correu desajeitada, apertando as pernas. Se não estivesse tão desesperada para ir ao banheiro, talvez tivesse notado o detalhe um pouco inquietante: a porta da entrada não estava trancada. Ao invés de reparar nisso, ela quase derrubou a porta ao entrar, atravessou o hall de entrada em direção ao banheiro do andar de baixo, que ficava depois da cozinha, nos fundos da casa. Parou de repente porquê escutou um som estranho vindo da cozinha. Estava parada no corredor, entre a sala de estar e a própria cozinha, a respiração ofegante, a vontade de urinar cada vez mais insuportável. Sua calcinha já estava úmida de gotas de urina que escaparam do seu controle, mas o medo a manteve paralisada e atenta ao som que ouvia. Era baixo e aterrorizante, mas era um som que ela conhecia muito bem. Era o som de faca cortando carne. Ou melhor de faca "destrinchando" carne. Conhecia esse som muito bem desde os seus 18 anos, porque seu marido Tony era o açougueiro do bairro onde moravam. Mas não podia ser ele na cozinha. Há poucas horas ele tinha saído para pescar no lago, e quando ele saia para pescar, levando sua embalagem com seis cervejas dentro de um isopor, ele só voltava ao anoitecer para o jantar. Avançou mais um pouco, o mais silenciosamente que conseguiu, apertando as pernas para conter sua vontade de ir ao banheiro, e tentou ver do lugar onde se encontrava se conseguia avistar quem estava na cozinha. Encostada no batente da porta, ela se encolheu e conseguiu ver sem ser vista: era um homem, completamente estranho. Ele estava de costas para a porta da cozinha, debruçado sobre a mesa, na frente do que a princípio parecia ser um boi inteiro nadando em sangue. As paredes, janelas e todos os eletrodomésticos e demais utensílio da cozinha estavam encharcados de sangue. O homem se inclinou e enxugou a testa com a manga do paletó, um gesto peculiar de quem esta suando e cansado do trabalho duro. O medo que até então estava só esperando um empurrãozinho para começar a dar sinal de vida se manifestou, porque agora que ele se inclinou ela pôde ver que, afinal de contas aquilo na mesa sendo retalhado não era um boi. Não, não era boi coisa nenhuma e sim uma pessoa, e estava usando botas de cowboy, muito parecidas com o par que seu marido tinha, aquele que ela lhe deu de presente no Natal passado e que ele sempre usava quando ia pescar no lago. Sentiu um líquido quente escorrer pelas pernas e um alívio repentino na bexiga, e notou sem muito interesse que finalmente urinara nas calças. Mas isso não era o mais importante agora. O importante mesmo era que esse camarada que estava ali na sua cozinha, usando a faca Gynsu de seu marido cortar carne, fazendo seja lá o que for com uma pessoa, e por favor meu Deus, que essa pessoa não seja o Tony, não notasse que ela estava ali, pelo menos até que ela chegasse ao seu carro na garagem e... Mas no momento em que ela pensou em se virar cautelosamente e sair, como se o homem tivesse conseguido ler seus pensamentos, uma voz terrível, rouca e cadavérica, como se saída da boca de um defunto, falou calmamente, sem que o homem sequer se virasse ou interrompesse o que estava fazendo: - Sei que você está aí. Ouvi o barulho do carro chegando e além disso você esqueceu de desligar o rádio. Está ouvindo? Gosto dessa música. Lá fora, o rádio de seu carro continuava tocando música muito alta, só que as guitarras de Jimmy Handrix agora foram substituídas pelo som dos The Doors tocando People are Strange. Ele começou a cantarolar a música e se virar bem devagar... Yara gritou quando viu seu rosto. Qualquer um gritaria. Ele era totalmente deformado, o rosto parecia mais uma máscara do dia das Bruxas, com dentes podres e lábios arreganhados em um sorriso hediondo. Mas o que a fez gritar não foi a sua deformidade, mas sim o que viu em seus olhos: loucura e maldade. Seus olhos eram cruéis, e irradiavam um ódio contido por tudo que fosse vivo. Sua boca estava suja de sangue e ela notou com crescente horror que ele havia lambido o sangue que escorria do corpo. Ele veio em sua direção e ela ainda tentou correr, mas ele agarrou-a pelos cabelos e puxou-a pra si, dando uma gargalhada terrível. Ela tentou fugir golpeando e chutando a esmo, mas ele era muito forte, parecia que tinha uma força sobrenatural. Tentou gritar, mas quando abriu a boca levou uma pancada na cabeça e desmaiou. E mesmo que ela tivesse conseguido gritar, quem a ouviria? ************** Quando acordou, horas depois, estava amarrada na cadeira de sua mesa de jantar, totalmente imobilizada e amordaçada. Sua cabeça não podia se movimentar para nenhum lado, apenas seus olhos se mexiam e olhavam ao redor, apavorados. E, coisa estranha, seus cabelos estavam molhados e ela sentia um desconforto na parte superior da cabeça, bem no centro. Tentou soltar as mãos. Impossível. Estava em uma posição bastante desconfortável e sem nenhuma chance de se mexer ou se soltar. Pelo pouco que podia ver, parecia que estava sozinha. Mas depois notou que não, não estava sozinha. Sim, finalmente pode ter certeza de que era seu marido quem estava na mesa. E agora o que ela via na sua frente era o que restou dele, arrumado cuidadosamente em sua poltrona preferida. O homem, ou seja lá o que era aquilo, retalhou seu marido inteiro, e depois tentou colocar tudo no lugar novamente, só que de uma maneira bem grotesca. A barriga estava toda aberta, expondo os órgãos internos, mas ela pode notar que faltava boa parte deles. Os braços e parte das pernas foram arrancados e pregados na parede. As orelhas e os olhos também foram arrancados e jaziam espalhados pelo chão. Ele colocou uma peruca loura na cabeça do cadáver, e vestiu uma saia que ela não reconheceu como sua. Passou batom nos lábios, imitando um sorriso de palhaço e nas suas mãos tinha um cartaz escrito: "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, o pior pecado é a Luxúria". O desconforto na sua cabeça foi aos poucos ficando mais intenso. Depois de muito tempo ela percebeu que eram gotas que caiam na sua cabeça. Talvez algum cano tivesse estourado bem em cima dela. Depois ela notou que na parte da cabeça em que caiam os pingos não havia cabelos. Isso era certeza, porque ela podia sentir as gotas caindo diretamente sobre seu couro cabeludo e incomodando muito. Horas se passaram. Agora as gotas que caiam a todo o momento na sua cabeça pareciam ser feitas de chumbo. Tentando freneticamente se livrar das cordas, ela cortou os pulsos e se machucou inutilmente, sem conseguir se mover sequer um milímetro. A dor na cabeça estava ficando insuportável. Como ela não podia mexer a cabeça, as gotas caiam continuamente e num ritmo bem calmo, sempre e sempre no mesmo lugar... Ping, ping, ping... " Casal encontrado assassinado em casa. O açougueiro Antônio Marcos Ravel e sua esposa Yara Felix Ravel foram encontrados mortos depois de setenta e quatro dias, na sala de estar de sua casa de veraneio. Os corpos foram descobertos pelo vizinho, que veio passar as férias com a família e notando o cheiro que saía da casa, resolveu chamar a polícia. O Sr. Ravel foi encontrado na sala de estar, todo mutilado e retalhado, usando uma peruca e uma saia, maquiado de forma grotesca. Em seu corpo não restava uma gota de sangue. Sua esposa estava amarrada na cadeira da mesa de jantar, imobilizada, o assassino perfurou um cano bem acima da cabeça da vítima, fazendo com que gotas de água que caiam continuamente no mesmo local em sua cabeça, perfurassem seu crânio, levando a mesma a morte após vários dias de sofrimento e agonia. Ambos os corpos estavam em avançado estado de decomposição. O casal não tinha inimigos e eram pessoas honestas e trabalhadoras. Nada foi roubado e a polícia não tem pistas do assassino e nem do motivo de um crime tão brutal."




A LENDA DO SIM
Na rua deserta e umedecida pela fina garoa que caía, caminhava a passos largos o homem franzino conhecido como T. Sua pressa tinha um único motivo, não queria perder de forma alguma o jogo do Knicks, torcedor fanático que era. Fez o serviço com a destreza habitual já conhecida por seus clientes que o contratavam a peso de ouro, pagamento adiantado como de praxe, problema algum para quem escolhia um homem com tanto respeito no submundo. No caminho gabava-se de quão bom era, a encomenda fora mais fácil que pensava. Não havia motivo para tanta preparação para apagar Andy Baley, um burguesinho de merda metido em dívida de drogas. É claro que a coleta que tinha com as prostitutas de luxo facilitava, conseguia informações valiosas, e suas vítimas eram pegas por seguir sempre o mesmo roteiro: jogar nos cassinos, se entupir de drogas e depois trepar com algumas garotas em um hotel qualquer. Riu, ao lembrar-se do idiota se borrando todo, com a 45 enfiada até o talo na garganta. E a arma ainda quente, lhe aquecia confortavelmente a perna. Ao quebrar o primeiro quarteirão, deparou-se com alguns mendigos amontoados no beco, tentando vencer o frio com uma pequena fogueira. Passou sem ser molestado, o povo da rua conhece o perigo de longe, fareja a morte iminente como um cão ao seu alimento. Mas antes que pudesse deixar para trás o cheiro fétido e nauseante do local, teve seu braço segurado. Os dedos coçaram para sacar sua arma, mas se conteve e apenas com um movimento brusco puxou aquele que o abordara ao encontro dos punhos. Seus músculos relaxaram ao ver que era apenas uma velha, imunda e maltrapilha. - Não tem esmola hoje! - Na-Não quero esmolas moço. – disse a mulher pressionada no paredão gelado. – Quero apenas lhe dar um recado que o vento me trás. Ele riu. – Velha louca! Então conversa com o vento? Não seja tola! Hoje poderia ter sido seu último dia de vida. - Apenas escute a mensagem, moço. - Além de louca é burra? Não vê que ainda respira por pura benevolência minha? Tua sorte é que hoje estou sem tempo. Vá! Volte para o esgoto de onde veio. – disse ele batendo a cabeça dela contra a parede. A mulher, atordoada, saiu do caminho, mas antes que ele sumisse de vista, gritou: - Sim! Sim! A vontade dele era voltar e descarregar sua arma na cabeça da maldita mulher. Mas já era tarde e não podia perder o jogo. Seguiu para o metrô, que naquela altura estava completamente vazio. Sentou-se confortavelmente encostado na janela, duas estações e estaria enfim a poucos metros do bar onde freqüentava. Na parada da primeira estação entrou uma criança e sentou-se ao seu lado, T. estranhou ao ver o menino, o qual julgou ter no máximo dez anos, sozinho. - Garoto, não está fugindo de casa, está? O menino, branco como leite e trajado com um terno mal costurado, sequer olhou para ele. - Muito bem! Sua mãe deve ter lhe ensinado para não dar conversa a estranhos. Notando que o garoto não estava mesmo querendo papo, ou sofria de algum problema auditivo, virou-se para a janela. Sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha, ao perceber que não havia no reflexo do vidro o pequeno companheiro de assento. Virou-se novamente para o menino e este com os olhos negros como a noite, berrou de forma descomunal. - SIMMMMMMMMMMMMMMMMMMM! Quase saltou do banco, e praguejou ao ver que estava sozinho no vagão. - Mas o menino, o menino... Foi tão real. Só podia ter cochilado... Mas fora tão real e tão... Tão... Assustador! Definitivamente aquela noite lhe parecia estranha. Queria chegar logo ao seu destino. Na saída do metrô, suas pernas ainda tremiam. – Porra, era só um garoto! Era só uma merda de pesadelo. Bruxa filha da puta, devia ter quebrado-lhe os dentes. Não! Não! Devia ter-lhe rachado a cabeça. No bar, enfim sentiu-se em casa, lá havia rostos familiares, por mais que T. fosse reservado, ali se soltava e trocava até algumas palavras com o balconista. Após o cumprimento amigável, foi servido com o velho Black Label de todas as noites, o gole desceu suave, seguido por um demorado trago no cigarro. E na tevê postada em um suporte no canto do bar, os Knicks entravam em quadra. Era um jogo decisivo, poderia levar seu time à tão sonhada decisão se passasse pelo Suns. Ele ficou tão preso ao jogo que pouco reparou (e foi o único no recinto que fizera isso) na loira de quase dois metros que adentrou no bar, trajando um tomara-que-caia preto. Mas essa não tirava os olhos dele, e com um gesto chamou o atendente do bar; este, após atendê-la, voltou ao balcão e sussurrou no ouvido de T: - Amigo, desculpe atrapalhar, mas creio que seja por um ótimo motivo, aquela loira maravilhosa que está sentada ali no canto, pediu que lhe entregasse este bilhete. Ele pegou o bilhete, e apenas sorriu discretamente. Tomou o resto do uísque que havia em seu copo, e o abriu. Dessa vez o gole pareceu travar na garganta tamanha a surpresa da mensagem. Em escrita bem consolidada apenas três letras recheavam o pequeno papel: SIM. T. virou-se para a mulher, e ela retribuiu com um largo sorriso. Intrigado, levantou e foi em sua direção, mas fora atrapalhado por alguns jovens que se amontoavam para ver o jogo. E nesse piscar de olhos a perdeu de vista. Olhou apressadamente por toda a parte, e mesmo os olhos treinados de um assassino frio e cruel não puderam localizá-la. Ela havia partido, e agora ele não estava delirando, se é que em algum momento estivera. O pequeno bilhete ainda estava em sua mão. Sentiu-se parte de uma brincadeira piegas, ou será... Será que alguém notou o seu pequeno serviço noturno? Estava confuso. E aquela situação atiçou seu nervosismo de tal modo, que fora meio que “sem prestar atenção em nada” para o banheiro. (Mantenha o controle. Mantenha o controle. Ninguém pode detê-lo. Você é o melhor no que faz. O melhor!) O pequeno banheiro do Massive’s Night, não era diferente dos banheiros de bares de qualquer subúrbio. A luz fosca amarelada dava um ar ainda mais sujo ao lugar, o cheiro de urina velha, misturada com um desinfetante barato qualquer, ardia nas narinas de qualquer um que ali adentrasse. Abriu sua calça e aliviou-se naquele mictório mal-cheiroso. Antes de lavar as mãos, retirou algumas folhas de papel toalha para cobrir sua mão. Não queria se contaminar com bactérias vindas de “paus sebosos”. Abriu a torneira e encheu as mãos, lavando em seguida o rosto, repetiu isso por duas vezes, e com os olhos fechados tateou o porta-toalhas. Enxugou o rosto com o papel, e quando abriu os olhos não viu apenas sua imagem. Além do seu reflexo, havia no espelho, escrito a dedo no vidro pouco embaçado, a palavra SIM. Passou as mãos sob a cabeça raspada, para enxugar as pequenas gotas repousadas, meteu a trava na porta e sacou sua pistola, antes de conferir se havia mais alguém ali. (Vocês não vão me pegar! Não vão! Estouro seus miolos antes que respirem, antes mesmo que possam piscar) Guardou sua arma novamente e saiu do banheiro. Desconfiando de todos que ali estavam, pagou sua conta, deu uma pequena conferida no jogo e saiu apressadamente. Sua cabeça estava a mil com tudo aquilo, e ele só queria ir para casa. Em sua mente uma voz estranha começou a sussurrar: SIM! SIM! SIM! SIM! Ele, no desespero, começou a andar mais e mais rápido, e aquela voz martelava em sua mente, em um ritmo cada vez maior. Ao passar em frente a uma loja de eletrônicos, teve a impressão de ver em todas as telas a mesma mensagem. Com o susto atravessou a avenida, e distraído não percebeu o Maverick azul que dobrara a esquina em alta velocidade, seu corpo fora atirado com brutalidade e seu sangue coloria de vermelho a calçada cinzenta. Estava consciente e sentia que não ia escapar com vida dali, pensou na ironia do destino, morrer de uma forma tão banal, pois, para um matador de aluguel como ele, morrer assim era quase uma humilhação. Quem o atropelou nem sequer parou para prestar socorro, e ele ficou ali, estirado por um longo tempo, sentindo a morte chegar lentamente. Tempo suficiente para ver sua vida passar como um filme, desde a infância até aquela noite, quando após subornar o zelador do hotel, entrou no quarto 105, e encontrou seu alvo completamente distraído na banheira, ele aguardava sua acompanhante. Mas mal sabia que essa, além de não aparecer havia lhe entregado para seu executor. - Serviço de quarto... – disse T. apontando a arma para Baley - Q-Quem é você? - Você deixou alguém muito, mas muito aborrecido garoto. - Mas.. - CALE A BOCA! CALE A MALDITA A BOCA, OK? (silêncio) - Isso, assim está bem melhor rapaz. Agora onde eu estava? Ah sim! Você deixou alguém muito aborrecido, e essa pessoa me pediu que viesse dizer isso a você. Mas, sabe como é, não sou muito bom com as palavras. - Na-Não pelo amor de d... - CALE-SE! – enfiando a arma na boca do rapaz – Não sou bom com as palavras, e vou resolver do meu jeito. Vou mandar você para o inferno. Quando chegar lá, pergunte ao diabo se tem um lugar para mim... Nas ruas, as pessoas começavam a chegar aos montes, gritando, se abraçando. Os fogos coloriam o céu. O Knicks havia vencido. Mas para T. isso não faria diferença... Era o fim da linha para ele. E a mensagem tão repetida naquela noite agora fazia sentido.

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